segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Viuvez, Transcendência, Finitude e Morte

Os idosos sãos aqueles que mais sentem os efeitos psicológicos da morte. Quer pelo facto de serem contados ou sentirem como os “próximos da lista” quer pelas transformações sociais causadas pelos falecimentos dos seus familiares e amigos.

Embora sejamos finitos e consideramos a morte como a única certeza que temos na vida, parece que fomos programados para não morrer, pois a morte, tão velha como a humanidade, é ainda nos dias de hoje um tabu, um intruso e está envolta em muito misticismo, lendas e crenças.

Fontaine (2000 pag. 176) classifica a morte como “ausência de actividade cortical”. Assim a morte pode ser classificada como a cessação de todas as actividades físicas e mentais. Lidamos com a morte constantemente e mesmo assim nunca nos adaptamos à essa realidade tão próxima de nós. Como diz o ditado popular “para morrer basta estar vivo”.

Segundo Hamilton (2002 pag. 137) “o estado da viuvez atinge mais comummente as mulheres do que os homens, por causa das diferentes expectativas de vida para os dois sexos”. Os pesquisadores parecem concordar com o facto que a perda do cônjuge entre os idosos tende a ter mais aceitação e conformação em comparação aos casais mais jovens. Provavelmente pelo facto da aceitação e do amadurecimento espiritual. Em conformidade com este conceito Thompson (apud Hamilton 2002 pag. 138) postula que “na maioria dos casos [morte do cônjuge idoso] o ajuste à perda é relatado como satisfatório, embora haja alguns sinais residuais de tristeza e outros sentimentos negativos 30 meses depois do falecimento”.  

Assim o momento da viuvez é um momento de fragilidade para o geronte. É um momento em que a companhia, o apoio e o calor humano e a solidariedade deve tomar o seu lugar e auxiliar o idoso a ultrapassar a perda por si próprio.  

A transcendência é um momento culminante no desenvolvimento da pessoa, especialmente para o idoso. Essa atitude ajuda-o a descobrir novos valores. A transcendência pode ser um acto não envolto em misticismo, pode e deve ser racional. Com o desenvolvimento da transcendência o idoso tem maior capacidade de aceitação das suas novas capacidades biopsicossociais, e tem mais facilidade para abraçar o desconhecido. Entre esses, a morte. Assim a “descida do cume do monte” torna-se mais suave e contemplar o pôr-do-sol da vida deixa de ser um momento de desespero e passa a ser um momento de satisfação. Como salientou o idoso profeta Samuel do Antigo Testamento, ao fazer um balanço da sua vida e obra:  “Ebenézer: Até aqui nos ajudou o Senhor” 1 Samuel 7:12.

Como frisou Monteiro (2008, pag 115) “envelhecer é deparar com o inesperado para que possamos aprender a ser diferentes a todo momento. Envelhecer é fascinante porque é uma flecha que nos conduz à evolução. Somos imperfeitos. Se fôssemos perfeitos, seríamos seres prontos. Sendo inacabados, temos a liberdade em nossas mãos para ser o que quisermos. 

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